Por Dr. Alberto José Niituma Ogata, Pesquisador associado do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão em Saúde (FGV Saúde)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, quase um bilhão de pessoas possui algum distúrbio mental diagnosticável1, sendo que o Brasil é líder na prevalência de transtornos de ansiedade2. Além de ser uma situação extremamente preocupante para os indivíduos, é crítica também para a nossa economia. Estima-se que as condições de saúde mental precárias da população irão gerar custos de até US$ 6 trilhões por ano globalmente até 2030, em termos de déficit de saúde e queda de produtividade1.
Quando olhamos para o déficit de saúde, não estamos olhando para o custo do tratamento, mas para o custo da falta dele. Uma pesquisa realizada por meio do banco de dados de provedores e operadoras de saúde no Brasil mostrou que pacientes com ansiedade geram altos gastos com consultas médicas em diversas especialidades, realização de exames e atendimentos no pronto-socorro3. O motivo disso é que, além do estigma social, muitos profissionais de saúde não tem preparo e conhecimento suficiente para diagnosticar a doença. Sem o diagnóstico, não há tratamento. Sem tratamento, a recorrência do paciente em consultas médicas se torna maior do que deveria ser, gerando altos custos ao sistema de saúde.
Além do sistema de saúde, as empresas também são impactadas. Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com trabalhadores de indústrias brasileiras constatou que cerca de 36% deles têm níveis de bem-estar baixos, com destaque para mulheres, jovens, pessoas com comorbidades e que estejam trabalhando exclusivamente em casa (home office)4. Isso impacta diretamente a produtividade e resultados financeiros da organização, uma vez que trabalhadores com bem-estar comprometido têm maiores taxas de absenteísmo5. Ou seja: a produtividade da empresa depende da saúde e do bem-estar de seus colaboradores.
É claro que o problema das organizações seria parcialmente resolvido se os transtornos mentais deixassem de ser subdiagnosticados e passassem a ser tratados adequadamente. Mas a mudança no sistema de saúde não será da noite para o dia. As empresas também têm seu papel de mitigar danos criando ambientes organizacionais emocionalmente sustentáveis para seus colaboradores. E o primeiro passo é tomar consciência dessa realidade para, aí então, gerar mudanças no modelo de gestão.
De acordo com estudos publicados pela psicóloga americana Christina Maslach, o estresse ocupacional costuma se desenvolver a partir de desequilíbrios em seis áreas: carga de trabalho, controle sobre atividades, recompensas apropriadas, laços sociais, tratamento justo e valores6. Portanto, os times de Recursos Humanos, bem como toda a liderança das organizações, precisam dar atenção a esses pontos, assegurando equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, fornecendo capacitação, autonomia e reconhecimento em forma de salário, benefícios e planejamento de carreira, incentivando o engajamento e a criação de laços entre os colaboradores, criando um ambiente de trabalho respeitoso e equilibrando as aspirações profissionais do funcionário e os valores da empresa. Além disso, a realização de programas de bem-estar também são importantes para promover benefícios e gerar conscientização sobre transtornos emocionais e psiquiátricos.
Portanto, tratar a saúde mental beneficiará não só o paciente, que terá melhora na qualidade de vida, mas também seus familiares, que reduzirão o estresse e a carga de cuidado, e as organizações, que ganharão produtividade, refletindo na melhoria da sociedade com um todo.